Desde sempre tive o sonho de ser Mãe. Nunca tive irmãos, e
isso custou-me bastante a ultrapassar quando ainda era uma criança cujo único
sonho era ter um irmãozinho para poder tomar conta. O tempo foi passando e
acabou por não se proporcionar. Os anos foram passando (não tantos) e claro, o
sonho de ter irmãos transformou-se noutro tipo de sonho, o de ser Mãe. Por este
desejo ser tão ambicioso, vinha acompanhado de medos, o medo de não o poder
concretizar por qualquer motivo que fosse. Mas um dia, o dia 07 de Abril de
2014, todos os medos foram aniquilados quando um tracinho cor-de-rosa mudou a
minha vida. Nesse dia houve um misto de sentimentos, desde alegria, pânico,
dúvidas, e medos, mas desta vez era um medo diferente, o medo de perder o bebé,
de que algo poderia estar errado. Posso até dizer que até ao dia em que te vi e
te toquei, uma série de medos e de possíveis acontecimentos negativos me
passaram pela cabeça. Logo no dia seguinte ao descobrir-te, fui ver-te. Eras
apenas uma bolinha preta que quase era precisa uma lupa para te ver na
Ecografia. Tinhas 5 semanas de vida. O Dr. R.R disse-me imediatamente: ‘’Não ponha
nos jornais porque não sabemos se é viável’’. Tudo bem, para mim já era mais do
que viável, porque o que quer que acontecesse, tu já estavas dentro de mim, eu
já era Mãe, já nada importava. Fui ver-te novamente duas semanas depois. Eras
uma bolinha um pouco maior, desta vez já não eras preta, já tinhas uma sombra
branca que se podia chamar coração e que eu ouvi com todas as emoções e mais
algumas. Finalmente, eu já tinha alguém que me viria a chamar Mãe, dentro de
mim, a crescer dentro da minha barriga. O Dr. R.R voltou a citar: ‘’Não ponha
nos jornais, olhe que ainda são só 7 semanas’’. Eu queria lá saber, só me
apetecia gritar ao Mundo. Mas não gritei. Contei apenas às pessoas mais
próximas, e, às restantes ia contando… Podia continuar a contar cada dia que
passou da tua vida intra-uterina, neste caso, da minha, porque me lembro de
cada momento, de cada sensação, como se tivesse sido hoje de manhã, mas não vou
fazê-lo. Não hoje.
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