No dia 14 de Dezembro de 2014, quando tu nasceste, às 02h07
da manhã, temi estar a ficar senil ou com alguma patologia grave. Tu nasces-te,
eu nem olhei para ti. Queria muito ver-te, mas ao mesmo tempo não te queria ver
nem tocar enquanto não estivesse bem e em condições para o fazer. Lembro-me
como se tivesse sido esta noite, que tu sais-te à força, num piscar de olhos já
cá estavas fora (embora tivesse esperado 48 horas como já referi), puseram-te
em cima de mim, consegui sentir que eras gorda pesadota, e estavas
coberta de fluidos brancos que mais parecia que tinhas sido barrada com
hallibut, não te vi a cara. Uma enfermeira levou-te para te vestir com a roupa
preparada à 5 meses e que estava à dois dias ‘’no sitio onde se vestem bebés
acabados de nascer’’. Mandaram o pai vestir-te, mas ele morria de medo de te
partir ao meio. Estavas mesmo a 2 metros de distância de mim, a ser preparada e
eu nem queria olhar. Queria certificar-me primeiro que ficava bem e aí sim, ia
ter-te nos meus braços. O pai trouxe-te até mim e disse-me: ‘’tem o teu nariz’’,
não tens, graças a Deus. E aí sim, vi-te, mas não com muita atenção porque o
trabalho que tu me tinhas feito, ainda não estava concluído. Quando finalmente
a médica terminou de coser tudo o que tinha direito, eu estava então preparada
para te receber. Amamentei-te, choras-te, apreciei-te. Adorei o teu choro,
adorei tudo. Mas faltava algo, ou melhor, eu julgava que faltava. Tinha a
sensação que não te amava. Aquele amor que todas dizem que sentem quando vêem
os filhos pela primeira vez, eu não o sentia. Talvez por estar extremamente
cansada, ou por já te ter ali e não dar importância ao verdadeiro sentimento,
algo me parecia errado. Com o passar dos dias, eu ainda sentia o mesmo e estava
verdadeiramente preocupada. Depois sentia uma espécie de falta de ar,
principalmente quando saía à rua, só me apetecia respirar fundo. Uma serie de
patologias sem cura me passaram pela cabeça, até que percebi que seria
ansiedade e era isso que me estava a inibir de te amar, mentira, eu já te
amava, só não o conseguia sentir. Hoje posso dizer que te amo muito mais de que
ontem e que amanhã te vou amar muito mais que hoje.
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