sexta-feira, 8 de maio de 2015

Hipocondria


Acho que tudo começou quando andava no 9º ano, quando, em Ciências Naturais, se falava do corpo humano e respectivos sistemas. A cada novo sistema do corpo que aprendíamos, de uma doença nova eu padecia. Lembro-me quando a matéria era sobre o Sistema Digestivo, falou-se do cancro e de alguns sintomas e afins. Sei também que a partir desse dia, fiquei cerca de três semanas com dores de estômago. Não era. Claro. Mas acreditava piamente que era cancro do estômago e quando fosse ao médico já era tarde e por consequência morreria.
Acho que desde essa altura já tive na minha cabeça milhares de doenças incuráveis. Cancro na cabeça quando tinha enxaquecas. Insuficiência renal quando por qualquer motivo fazia xixi poucas vezes por dia. Leucemia quando me apareciam nódoas negras sem que eu me lembrasse de as ter feito. Pneumonia quando me constipava. Tuberculose se tivesse um pouco de tosse. E etc. E depois claro, os enfartes quando sentia uma picada que fosse no peito, e avc’s e etc. 

Quando fui trabalhar para o hospital, por um lado melhorei um pouco porque aprendi a valorizar a minha saúde, olhando para os doentes, que esses, sim, estavam gravemente doentes. Por outro lado, acabo também por associar as doenças deles, com possíveis sintomas que eu nem tenho mas depressa começo a senti-los.

Depois pergunto às pessoas próximas de mim, que geralmente é a desgraçada da C. algo como: ‘’olha sinto isto assim assim tu também já sentis-te? É normal?’’ e ela lá me responde que sim, que é normal. E eu fico mais descansada e já nem penso mais nisso. Às vezes são sintomas ou sinais que eu já tive, mas só quando não tenho nada que fazer é que decido dar importância. Em vão. Eu sou uma ingrata, Deus me perdoe, sempre fui saudável, é raro constipar-me, mas ainda assim não sei a sorte que tenho.

A hipocondria é grave. Não gosto de lhe chamar doença, porque para mim, não o é. É a apenas uma forma que eu arranjei para dar valor a mim própria e a preocupar-me comigo em primeiro lugar. L. à parte, claro. Engraçado que não sou nem um bocadinho hipocondríaca com a L. Ela acabou de nascer. Tem a saúde toda em altas. Eu também, na verdade. Só nasci um pouquinho mais cedo.

Não sou pessoa de ir a correr para os hospitais assim que acho ter algo grave, porque também sei, que sou só eu a imaginar coisas.


Sou hipocondríaca, mas tenho a noção disso, e por esse motivo levo-a na brincadeira e divirto-me imenso quando tomo consciência das doenças que já pensei ter. 

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